Salve estimados súditos e nobres do Castelo da República da Westphalia Tupiniquim. Meu coração retumbante se comove com as recentes propagandas de nossos príncipes acerca dos glamourosos investimentos na Educação da famélica e andrajosa plebe desinstruída, pilar de um civilizado reino livre de bárbaros selvagens.

Tal ato de considerável benevolência com desafortunados eleitores e de magnânima austeridade contra intelectuais irascíveis que se recusam a adotar como modelo a postura de meu amabilíssimo mestre Pangloss, cujos ensinamentos eram regiamente remunerados apenas com pão e água, para que não perecesse de inanição, me levam a crer fervorosamente que vivemos indiscutivelmente no melhor dos mundos possíveis.

As belas palavras de comiseração, os slogans bem construídos, as emotivas e singelas canções de fundo e as simpáticas coreografias antes da retumbante descida das cortinas, deixam meus olhos míopes tão marejados quanto mediante o vislumbre do rosto maquiado de minha amada Cunegunda, por mais que outros palácios como o Unesco, insistam em afirmar que os resultados conquistados por este reino sejam pífios.
Deleito-me com as campanhas de difamação, humilhação e açoite público destinadas a estes insurgentes que se auto-proclamam professores e educadores, querendo manter de forma egoísta o conhecimento perene que levaram décadas para adquirir e, ainda por cima, exigindo de nossa realeza que compartilhe com eles a ínfima parte dos tributos arrancados do aguerrido populacho, sendo falaciosa a afirmação de que nossos príncipes os desmotivam a ensinar os animais bípedes a ser gente.
Reclamam de barriga cheia de ar esses docentes iluministas. Eu, que já sofri as agruras da chibata por amar a virtude, sei que tudo está bem mesmo quando tudo está mal, pois a implantação dos programas de valorização por produtividade compensa o envelhecimento precoce do pão, a contaminação da água e a labuta incansável dos adoradores da insanidade socrática em campos de tortura chamados de escola.

Causam-me tamanha repulsa as atitudes dos docentes deste Castelo, que nem me darei ao luxo de elucubrar as modernas doutrinas construtivistas trazidas de além mar, cujos territórios sapientes as abandonaram por simples pragmatismo há tempos, pois não tiveram a majestosa criatividade dos alquimistas da Westiphalia, que sabem como Midas transformar tudo em que tocam em ouro dos tolos.