Devo admitir perante os mais profundos ensinamentos de mestre Pangloss que as recentes incursões dos magnânimos barões de nosso amado Castelo Brasil nas doutrinas morais e dos bons costumes muito me deixam otimista em relação ao promissor desfuturo desta proeminente Westphalia tupiniquim.
As medidas aprovadas na madrugada desta quarta-feira pelo incansável senado brasileiro, aumentando a chamada “gorjeta” cobrada pelos bares e restaurantes, de 10% para 20%, me remetem a um bucólico cenário de justiça social, cuja beleza só encontra semelhança nos olhos de minha bela e desejada Cunegunda.
O auspicioso Projeto de Lei regido por este Robin Hood institucional moderno defende bravamente expropriar dos tiranos opressores boêmios consumistas para dar aos pobres serviçais dos extorquidos donos de estabelecimentos noturnos.
Tal ato de compaixão advinda da caridade com a cartola alheia, valentemente justificado pelo senador Marcello Crivella para “beneficiar garçons e outros trabalhadores de bares e restaurantes que exercem atividade tarde da noite e na madrugada, pois eles estão mais sujeitos a riscos de violência, sofrem com as dificuldades de transporte e estão submetidos a um grau de penosidade maior do que aqueles que trabalham nas primeiras horas da noite ou durante o dia”, trouxeram-me lágrimas aos olhos.
Esta mostra de benevolência extrema apenas comprova que vivemos no melhor dos mundos possíveis, como enaltece a sabedoria inconteste de meu digníssimo mestre Pangloss, pois nada justifica que tais consumidores esbanjem suas posses ousando se divertir em horários inapropriados, colocando em risco a imponente imagem de eficiência do Estado e de seus varonis barões, afinal tudo está bem mesmo quando está mal.